quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A amizade consumida...



A amizade consumida
triste fábula inacabada
uma amizade nunca pedida
o despertar da chapada

Nunca contei factos
nem pedi tostões
perdi os maus actos
em diferentes ocasiões

Cometi erros
escrevi desculpas
os movimentos perros
o sacrifício das multas

Os amigos são poucos
nas horas de aflição
ganhas a lotaria dos loucos
logo eles são de ocasião

A vida é amarga
o que resta é sorrir
azeda e se estraga
quando o ódio a faz ruir

A caneta sem tinta
é um coração sem amor
o pintor que não pinta
sem a deusa a se expor

O último suspiro
faz o consumar
disse e não retiro
o que me faz respirar

Não desisto de viver
absorvo o momento
olhar e ver
a ausência do lamento

Confirmo a chegada
o abraço da partida
vivo numa cruzada
entre a beleza esculpida

Autor: The Ugly

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Inverno do perdão...


O frio que entranha
é o gelo do abandono
há gente que não estranha
o teu ordinário trono

O princípio ferido
a realeza soberana
o ódio nunca contido
do amargo da cana

Quero chegar perto
mas assusto o mar
acho que nunca acerto
a tempo de acabar

Sonho acordado
escrevo linhas
o sorriso fracassado
das dores minhas

Nasci amargurado
um choro silencioso
um louco cansado
de advertir o cuidadoso

Julgado pela maioria
sou um triste arguido
cega justiça fazia
sacrificio do bandido

Porque quero chegar
aonde não tenho entrada
perco-me no pensar
da confusa encruzilhada

Quero aquilo que não desejo
desejo aquilo que não quero
o falso bocejo
calmamente desespero

Uma canção de protesto
uma ruidosa declaração
este é o meu manifesto
no inverno do perdão

Autor: The Ugly

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A prisão...


Eu quis fugir
e forcei a corrente
não há folga a partir
da prisão eminente

O passado do presente
aparição vinda do nada
o difícil ditado
da mão pouco treinada

Sentado corro o mundo
sonho com a paisagem
ela preenche o fundo
a ilusão da miragem

O oceano já ali
a pedir uma vida
recuso ficar aqui
à espera da partida

Nesse teu jardim
um mundo fechado
rosas dálias e alecrim
mágico amor plantado

Colho uma flor
para a longa ausência
o símbolo do amor
da antiga dormência

Autor: The Ugly

Pegadas na areia..


Uma ode à amizade
cruel e nua
o tapete da falsidade
a ferida aberta e crua

A vida é curta
e os vampiros sugam o que resta
o sumo da fruta
desta ignóbil festa

Pirata ladrão
o palhaço sisudo
a sempre boa ocasião
para humilhar o miudo

Os encontros fugazes
dos distantes amigos
os desafios audazes
dos fracos e antigos
As pegadas na areia
eram uma marca
os beijos da sereia
o punhal e a faca

A amizade fraseada
a palavra erudita
a mentira lançada
da ausência infinita

As canções de amor
os poemas escritos
gestos de baixo valor
dos orgulhos malditos

A dura humilhação
a estranha verdade
enxovalhado cão
no oceano da saudade

O grito que não sai
o perder da razão
o passado ja lá vai
no remoer da recordação

De mãos dadas
vagueio na ausência
relações cortadas
a certeira cadência

Autor: The Ugly

domingo, 20 de janeiro de 2008

O nunca triunfal...


A noite é soberana
e reina imperial
na dura semana
do fatigado general

O homem é racional
e controla o destino
uma verdade irreal
do falso caminho

As costas voltadas
para a cruel realidade
a preguiça das escadas
a interminável saudade

Livre para sobreviver
da louca ignorância
a concava colher
antagonista fragrância

A filosofal missão
é o amor incondicional
recíproco senão
do nunca triunfal

Autor: The Ugly

Esta cidade..


Aprendemos a ser livres
nos primeiros passos
a joia do ourives
o esboço dos traços

Gritei estou aqui
o eco respondeu agora
e ainda não fugi
pela porta fora

A conversa foi abaixo
desliguei o amplificador
arrumei o contrabaixo
fui procurar o meu amor

Fui ao colo do sorriso
guiado pela paixão
nada foi preciso
o perigo de explosão

Continuo a ir até ti
mas estou parado
a parede mexe ali
fumei algo marado

Falhei a estação
sinto a tua falta
o resto é antecipação
a noite já vai alta

Entro num bar
caio no esquecimento
o que vejo faz-me corar
que feliz casamento

A musica está potente
sacudo a cabeleira
que bela gente
que grande bebedeira

Conheci uma rapariga
era gira de morrer
seria uma fadiga
dizer não pode ser

Mas eu ainda te amo
e contigo quero estar
o amor que cobre o pano
desse teu dançar

Fugi desta cidade
que me faz enlouquecer
a placa diz saudade
nos teus braços quero morrer

Autor: The Ugly

sábado, 19 de janeiro de 2008

O árido deserto...


Naqueles dias
de pura incerteza
tudo aprendias
desta pobre natureza

Contentei-me com pouco
o muito do nada
clareia no pobre louco
a repetida saga

Olhar perdido
na distante metáfora
um desgosto contido
nos braços da diáspora

Não avanço para trás
não recuo para a frente
o destino surge fugaz
na banalidade decadente

No album do exilio
acordar as recordações
é libertar a passagem
da duras contradições

Se estás no meu caminho
não a queiras estragada
sou uma má companhia
uma pá de porrada

No árido deserto
fito o horizonte
sinto que estou perto
da velha ponte

Foram quarenta semanas
quarenta dias a nascer
o vibrar das canas
um maduro fruto a colher
Autor: The Ugly

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A magoa do coitado..


Aquele calor decadente
é o ardor da luta
o triste inconveniente
da alma que exulta

Um homem sem esperança
uma criança perdida no entulho
o futuro não trás a bonança
da imunidade do barulho

O prazer está perdido
e o sorriso da harmonia
afirmou-se esquecido
da doença que padecia

Seguiu os ideais
o impulso da crueldade
perdeu-se nos canavais
enterrou a saudade

Perseguia-o a culpa
de ter errado
a dura multa
de um inocente culpado

A cama nua
a roupa lançada
na vida crua
uma porta trancada

Dormi na rua
vivi nas calçadas
a afiada pua
das vidas fracassadas

Não te atrevas a esperar
pelo meu postume regresso
se alguém perguntar
diz que nada te peço

Partiu enganado
e tudo deixou
a magoa do coitado
que ele proprio criou

Autor: The Ugly

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Road to Perdition


O impulso que me incita
é a teimosa obstinação
de quem ainda acredita
nos sarilhos da paixão
Essa estrada é só de ida
não quero olhar para trás
o tempo passa de fugida
cegado pela palavra mordaz
Escrevo um poema
nas entrelinhas do futuro
a doce alfena
nascida na parede do muro
Deixei-me cingir
pelo teu impeto bravio
o desvairo de desservir
quem sempre me puniu
Mas nesta mesma tarde
parto sem queixume
a chama ainda arde
naquele brando lume
E se um dia apareceres
lembra-te porque parti
a amnistia dos vazios bateres
e aquilo que sofri
Um tolo como eu
perdeu-se na estrada
fugiu do que mordeu
no estreito da enseada
Autor: The Ugly

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O jogador..

Há muito tempo atrás
conheci um jogador reformado
sentava-se na sua soleira
a recordar as vitórias do passado

Tinha medo da morte
mas por ela chamava
a blasfémia da sorte
que por ali rondava

Todos os dias olhava
para o seu rosto amargurado
um reflexo verdadeiro
de um triste passado

Outrora aclamado
agora esquecido
a crueldade humana
no seu mais forte sentido

Bebia para esquecer
a dura realidade
é triste não ser jovem
pela longa eternidade

Mas o velho jogador
estava conformado
não valia a pena depor
o seu destino estava traçado
Autor: The Ugly