quarta-feira, 28 de novembro de 2007

The Gipsy


Sou um ser errante
de trouxa as costas
vivo no limbo cortante
no fundo das apostas

Um nómada abandonado
andando em circulos imaginários
triste e cansado
fazendo percursos contrários

A estrada empoeirada
é a minha via rápida
procuro ganhar a vida
da forma mais prática
Não procuro luxo
nem ostentar riquezas
um tecto para dormir
é uma das grandes finezas

Sou mal visto pela sociedade
agredido e enxovalhado
não quero a caridade
simplesmente ser respeitado
Acusam-me de ladrão
mentiroso e intrujão
são as meias verdades
de uma falsa acusação
Vendo nas feiras e nos mercados
pedaços estilhaçados
de sonhos outrora imaginados
A minha soldada
pouco dá para viver
triste sina de um cigano
vender o seu jericó
para ter de comer
Esta é a minha vida
este sou eu quem tu vês
a dureza do percurso
um livro cheio de porquês
Autor: The Ugly

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A palavra


Naquela ultima
e empedrada rua
vivia uma palavra
seria minha ou tua?
O que faz uma palavra
desta natureza
andar solta sem ninguém
conhecer a sua grandeza

Ninguém a abordava
pois tinham medo
a todos rasgava
o cheiro a azedo

A morte rondava
e ninguém ousava
escrever o fruto
que de tão proibido
tinha sido banido
Mas a criança levantou a questão
o jovem aumentou a voz
o adulto deu-lhe betão
e a palavra fez-se
para todos nós entender-mos
as portas da percepção
Autor: The Ugly

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A praia deserta


Corro sozinho
pela praia deserta
o certeiro caminho
de uma vida incerta

Acompanha-me ao largo
um revolto mar
ele emite uma canção
um poema de embalar

É dificil resistir
ao seu encantamento
deixo-me ir
pelo seu chamamento

Mergulho no mar gelado
que estava a ferver
perco-me nos seus seios
para desaparecer

Não pretendo regressar
ao lugar assinalado
ali jaz uma alma
uma coração despedaçado
Autor: The Ugly

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Cardo


Neste nosso existir
nem tudo é facil
ou dado de mão beijada
poucos motivos para rir
uma vida safada

Estava meditando
no meu banco de jardim
quando se aproxima do meu olhar
uma gata de botim
que me cortou o respirar

Um estranho calafrio
atravessou o espectro lunar
e tudo era vazio
até ela chegar

A sua beleza
suprimia a altivez
que nenhum intencionado gesto
a satisfez

Ali estava ela ao meu lado
como tantas vezes
eu o tinha desejado
mas estava deveras assustado
para lhe dirigir palavra
que ignobil vergonha
deste triste cardo
Autor: The Ugly

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O cacto

O solitário cacto
coberto de espinhos
nada tinha para dar
na poeira dos caminhos

Aquele cacto
muitos danos sofria
não sabendo a razão
porque aguentava a pressão
que mais ninguém queria

Por vezes imaginava
se a brisa que o banhava
seria forte o suficiente
para o levar bem longe
daquela ignobil gente

Tudo o que queria
era uma companhia
uma verdadeira amizade
para expulsar os demonios
da dura realidade

Apesar de tudo
era uma alma satisfeita
podia não ter nada
mas era de uma fina colheita
Autor: The Ugly

domingo, 18 de novembro de 2007

Tributo ao mestre


" 'Twas in another lifetime, one of toil and blood
When blackness was a virtue and the road was full of
mud
I came in from the wilderness, a creature void of
form.
Come in, she said,
I'll give you shelter from the storm.
Come in, she said,
I'll give you shelter from the storm."
Lyrics: Bob Dylan

A monotonia de um minuto

Esforçado rimar
oh fácil complexidade
mediano refrear
da tosca crueldade

Sou um poeta
sem ambição
de grude aguilhoar
perdido na missão
de querer agradar

A rima coxeia
como a falua balança
até à vista anseia
a impertinente desconfiança

Quando erramos
estamos a aprender
mas não nos safamos
se continuo a perder

Um copo vazio
ali por preencher
o corpo não pediu
tamanho sofrer

As horas largas
um forte ressonar
oiço a minha voz
lá ao fundo passar

Um juizo feito
ideias erradas
não julgues de antemão
as minhas pegadas
Autor: The Ugly

O pobre errante

Ele tinha uma pedra
a segurar um espinho
um fardo pesado
de um longo caminho
Prendia-lhe o ar
restringia a liberdade
são amarras vitais
de uma antiga saudade
Era um homem que calçava
um sapato sem dó
vivia errante
coberto de pó
Vivia da gentileza alheia
e dos bem intencionados
eram a luz da sua candeia
para os seus dias mal passados
A sua cama
era o mármore gelado
de uma apertada marquise
já estava adaptado
não havia crise
Perante a adversidade
era um monossilábico falante
exprimia com o olhar
a sua tristeza gritante
Autor: The Ugly

A moira encantada

Encontrei uma árvore
sozinha no monte
robusta e formosa
o nectar de uma fonte
Afirmaram os idosos
que está amaldiçoada
e contaram-me a lenda
da moira encantada
Então reza a historia
da mourisca formosa
que morreu de amores
devido a sua beleza estrondosa
Era filha de um rei
tirano e cruel
pulso de ferro
e lingua de fel
A pobre filha
triste e enclausurada
vivia apaixonada
por um simples pastor
era uma paixão iluminada
o fruto de um grande amor
A sua face morena
e olhos negros
seus cabelos flores de açucena
escondiam mil segredos
Diamantes em bruto
oiro brilhante
safiras e rubis
e uma voz cantante
Mas o açude
que os separava
era a alforria
que os consumia
O xeque sabendo desta traição
o coração encheu-se de ardor
matou o pobre pastor
sem um pingo de compaixão
Naquela azinhada
lá ao longe plantada
o pobre coitado
foi açoitado
até a sua chama ser apagada
A filha foi mandada para o sáfaro
para nunca mais voltar
mas o desgosto
foi tão grande
que acabou por se matar
Ainda hoje naquela azinhada
podemos ver
a moira encantada
procurar o seu amor
Autor: The Ugly

A porta para ti

Quando te conheci
dançavas distante
frequentavas os melhores meios
uma beleza exótica
sem falsos rodeios
paixão hipnótica

Sorrias no alto
do teu castelo imponente
alcansar-te seria um salto
de um esforço impotente
não passavas cartão
a plebe circundante
era a baixa ralé
feixe discordante

Até que um dia
a minha sorte mudou
o mendigo lavrou
mas conheceu a senhora
foi uma paixão
demais avassaladora

Outrora desconhecidos
agora apresentados
mundos distantes
sonhos aproximados
beleza descomunal
olhar assassino
estou apaixonado
sigo o vil caminho

Autor: The Ugly

Estranha criatura

Quero abraçar-te
nas escadas tortuosas
de uma subida
um improviso de cantar-te
uma canção pedida
Um beijo lançado
um passo atrás
gesto perdoado
como fui capaz?
Sou um descrente
por já não acreditar no amor
é um defeito congénito
angustiante amargor
Mas eu gosto de ti
mesmo sabendo a razão
de não poder contornar
a tua convicção
Autor: The Ugly

"The magic of ordinary days"


Outrora conheci
um homem cansado
vivia no limbo
um acto falhado
uma mulher triste
de orgulho ferido
cicatrizes antigas
de uma grande paixão
silencios contidos
de uma falsa comunhão

Um bebé que chorava
no frio do deserto
um poço sem fundo
ninguém por perto
Mil berlindes a rolar
uma criança a sorrir
uma parede furada
de tanto resistir
uma luta desigual
salpicos de cor
no lencol manchado
uivos de dor
Autor: The Ugly

O poeta imaginário

O poeta Imaginário!!

Ele havia um chavão
que não entrava
uma chave
que não rodava
uma tranca sem fechadura
e tudo isto se passava
no tempo que não corria
e ninguem sabia
aonde se cortava
a arvore com brandura
Mas da tua ternura
não me esquecia
a dissuasão não me corrompia
e por ti sonhava
e dava a encorajar
que o escravo de ti sou eu
O fumo navega
com a calma de mil dias
a cinza que cai
perde-se na terra
tu mal sabias
que se eu não regressei
foi porque custou a partir
voltar seria estagnar
e eu não desejava sentir
o meu mundo a acabar
por te ver a sorrir
Autor: The Ugly

A tristeza do sorriso

Naquele sombrio teatro
havia um palhaço
que no palco
sozinho permanecia
a tentar recordar
o que não queria
longas horas ali estava tácito
sem transmutação
o seu olhar perdido
na multidão
procurava um sorriso
que outrora ouvira
mas a demora fazia-o sofrer
e a cantilena
era o choro de uma mulher
Os seus dias
eram a esmolar
por um bocado de pão
que tentava consolar
a triste ocasião
ruim codea
que é a vida
triste labor
póstumo orgulho
ténue sorriso
do infeliz entulho
Autor: The Ugly

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O mendigo da razão

Andei por ai
correndo mil terras
muita coisa vi
naquelas serras
um homem sem dentes
que declarava poemas
falando das serpentes
que por ali existiam
dizia as verdades
que muitos não queriam
Um cego que via
a razão de viver
abria os braços por saber
que a mentira e a verdade
são irmãs
as falsas palavras
promessas vãs
ditas com a eloquência
da falsidade
enganam os pobres
com rude moralidade
O irriquieto cego
foi silenciado
por dizer a verdade
era um idiota chapado
diziam os galafões
mais valia estar calado
meteu-se em confusões
agora está enterrado
não diz palavra
está melhor com que estava
Mas naquela terra
de grande pobreza
aonde os corvos desfilam
com o seu luxo desmesurado
ele havia um vagabundo
que vivia calado
A sua condição
era de baixa ralé
muita sorte tinha
por estar em pé
mas o seu coração explodia
quando não lhe era permitido
dizer o que sentia
até encher-se de coragem
deu um sopro no escuro
e falou aquilo que disse
a praça encheu-se
para o ouvir falar
mas ninguém percebeu
aonde queria chegar
Muitos abalavam
criticando a razão
os que lá ficaram
perceberam então
o povo unido
jamais sera vencido
Autor: The Ugly

A pedra da pedrada


Numa tarde
naqueles incertos dias
uma pedra saltou
das mãos de um rapaz
estariam as mão frias
ou foi ele sagaz?

Má sorte
ou destino do petiz
a pedra ter ido logo embater
na cabeça do juiz
O sangue não corria
e já crucificavam o pobre coitado
que passava os dias na cama deitado

Não pode ter sido ele
diziam as vizinhas
ele nem pode com duas pedrinhas
o batalhão inflamado
foi a casa do pobre coitado
que não esperava
semelhante acusação
chorava ele em desgarrada
a mãe e mais o irmão

Foi a tribunal
sem culpa formada
ainda o juiz
não estava curado da pedrada
e a sentença perto de ser declarada
quando perguntaram
pela pedra malvada

Mas da pedra nem vê-la
fechada estava a sessão
o rapaz estava safo
da falsa acusação

Autor: The Ugly

O malfadado

A alma do infeliz
é um deserto
coberto de áridas raizes
o desencanto certo
de querer
o que sempre quis
Autor: The Ugly